“As palavras” – poema de Eugénio de Andrade
Posted by Manuela DLRamos em Janeiro 19, 2013
As palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade in O Coração do Dia
Fonte: Fundação Eugénio de Andrade > POESIA- 30 poemas
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Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, poeta maior da língua portugesa, nasceu a 19 de janeiro de 1923
e faleceu a 13 de junho de 2005. A sua poesia continua viva.
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Anónimo said
Excelente poema,de uma complexidade interpretativa extrema! Adorei ;)
Chuva não é certamente – sinalAberto said
[…] o grito que ecoa, com palavras que, já declamava Eugénio de Andrade, ferem como “(…) um punhal, / um incêndio” ao sugerir medidas aparentemente tão óbvias e simples quanto as que reiteram a necessidade de […]