Na próxima quinta-feira realizar-se-á a visita de estudo do 5º ano à Alfândega Régia-Museu de Construção Naval de Vila de Conde e à Nau Quinhentista, por isso sugerimos que faças desde já esta visita virtual. Boa viagem!
Lê (ou relê): As Naus de Verde Pinho de Manuel Alegre e A Nau Catrineta na versão tradicional divulgada por Almeida Garrett e cantada por Fausto, ou numa versão mais atual de António Torrado. Na biblioteca temos vários exemplares.
Foi há 516 anos, em finais de abril, que Pedro Álvares de Cabral chegou às terras que apelidou de Vera Cruz. No dia 1º de maio, Pêro Vaz de Caminha, cavaleiro real e escrivão que seguia na armada com a missão de relatar a viagem (que pretendia ir para a Índia mas aportou primeiro às terras do Brasil), terminava a sua célebre carta ao rei D. Manuel I.
Por essas razões (e porque os alunos do 5º ano andam a estudar os “Descobrimentos”), aqui fica esta canção do grupo Palavra Cantada, com as vozes de duas crianças, uma a cantar em português do Brasil e outra em português de Portugal. Espero que gostem, tanto como nós.
[Pindorama: palavra derivada do Tupi-Guarani, significa Terra das Palmeiras (seria o nome que os nativos chamavam às terras brasileiras quando do descobrimento pelas naus portuquesas comandadas por Pedro Álvares Cabral)]
«Pindorama, Pindorama
É o Brasil antes de Cabral
Pindorama, Pindorama
É tão longe de Portugal
Fica além, muito além
Do encontro do mar com o céu
Fica além, muito além
Dos domínios de Dom Manuel
Vera Cruz, Vera Cruz
Quem achou foi Portugal
Vera Cruz, Vera Cruz
Atrás do Monte Pascoal
Bem ali Cabral viu
Dia 22 de abril
Não só viu, descobriu
Toda a terra do Brasil
Pindorama, Pindorama
Mas os índios já estavam aqui
Pindorama, Pindorama
Já falavam tupi-tupi
Só depois, vêm vocês
Que falavam tupi-português
Só depois com vocês
Nossa vida mudou de uma vez
Pero Vaz, Pero Vaz
Disse em uma carta ao rei
Que num altar, sob a cruz
Rezou missa o nosso frei
Mas depois seu Cabral
Foi saindo devagar
Do país tropical
Para as Índias encontrar
Para as índias, para as índias
Mas as índias já estavam aqui
Avisamos: “olha as índias!”
Mas Cabral não entende tupi
Se mudou para o mar
Ver as índias em outro lugar
Deu chabu, deu azar
Muitas naus não puderam voltar
Mas, enfim, desconfio
Não foi nada ocasional
Que Cabral, num desvio
Viu a terra e disse: “Uau!”
Não foi não, foi um fim
Foi um plano imperial
Pra aportar seu navio
Num país monumental
Ao Álvares Cabral
Ao El Rei Dom Manuel
Ao índio do Brasil
E ainda quem me ouviu
Vou dizer, descobri
O Brasil tá inteirinho na voz
Quem quiser vai ouvir
Pindorama tá dentro de nós
Ao Álvares Cabral
Ao El Rei Dom Manuel
Ao índio do Brasil
E ainda quem me ouviu
Vou dizer, vem ouvir
É um país muito sutil
Quem quiser descobrir
Só depois do ano 2000»
Lê (ou relê): As Naus de Verde Pinho de Manuel Alegre e A Nau Catrineta na versão tradicional divulgada por Almeida Garrett e cantada por Fausto, ou numa versão mais atual de António Torrado. Na biblioteca temos vários exemplares.
Neste videoclip o cantor interpreta a versão recolhida por Almeida Garrett (1799- 1854) e publicada no seu Romanceiro(1843)
NAU CATRINETA
«Lá vem a Nau Catrineta
Que tem muito que contar!
Ouvide agora, senhores,
Uma história de pasmar.
Passava mais de ano e dia
Que iam na volta do mar,
Já não tinham que comer,
Já não tinham que manjar.
Deitaram sola de molho
Para o outro dia jantar;
Mas a sola era tão rija,
Que a não puderam tragar.
Deitaram sortes à ventura
Qual se havia de matar;
Logo foi cair a sorte
No capitão general.
– “Sobe, sobe, marujinho,
Àquele mastro real,
Vê se vês terras de Espanha,
As praias de Portugal!”
– “Não vejo terras de Espanha,
Nem praias de Portugal;
Vejo sete espadas nuas
Que estão para te matar.”
– “Acima, acima, gageiro,
Acima ao tope real!
Olha se enxergas Espanha,
Areias de Portugal!”
– “Alvíssaras, capitão,
Meu capitão general!
Já vejo terras de Espanha,
Areias de Portugal!”
Mais enxergo três meninas,
Debaixo de um laranjal:
Uma sentada a coser,
Outra na roca a fiar,
A mais formosa de todas
Está no meio a chorar.”
– “Todas três são minhas filhas,
Oh! quem mas dera abraçar!
A mais formosa de todas
Contigo a hei-de casar.”
– “A vossa filha não quero,
Que vos custou a criar.”
– “Dar-te-ei tanto dinheiro
Que o não possas contar.”
– “Não quero o vosso dinheiro
Pois vos custou a ganhar.”
– “Dou-te o meu cavalo branco,
Que nunca houve outro igual.”
– “Guardai o vosso cavalo,
Que vos custou a ensinar.”
– “Dar-te-ei a Catrineta,
Para nela navegar.”
– “Não quero a Nau Catrineta,
Que a não sei governar.”
– “Que queres tu, meu gageiro,
Que alvíssaras te hei-de dar?”
– “Capitão, quero a tua alma,
Para comigo a levar!”
– “Renego de ti, demónio,
Que me estavas a tentar!
A minha alma é só de Deus;
O corpo dou eu ao mar.”
Tomou-o um anjo nos braços,
Não no deixou afogar.
Deu um estouro o demónio,
Acalmaram vento e mar;
E à noite a Nau Catrineta
Estava em terra a varar. » (ver aqui)
Para conheceres outras versões da Nau Catrineta clica aqui
Viagem de Bartolomeu Dias contada à minha filha Joana
Sinopse: «Nunca a história da viagem de Bartolomeu Dias foi tão fácil de aprender. Num estilo muito próprio, Manuel Alegre conta aos mais novos, em verso, esta magnífica aventura empreendida por um extraordinário Capitão que levou no coração o país a navegar. Muitos perigos enfrentou e muitas batalhas travou e venceu para que o nome de Portugal nunca mais fosse esquecido.» (in Leyaonline)
«Nesta obra, a novidade está, assim e essencialmente, nos seus destinatários, em subtítulo particularizados na “minha filha Joana”, com ela abrangendo todas as crianças e jovens. Como síntese introdutória, pode dizer-se que Manuel Alegre oferece à família e ao mundo, um breve poema narrativo acerca da gesta dos Descobrimentos portugueses. Nele, assume como referências intertextuais quer a literatura de tradição oral, nomeadamente o romance popular Nau Catrineta, quer a literatura de tradição culta concretizada por Os Lusíadas e Mensagem.» (profª Olinda Gil in “AS NAUS DE VERDE PINHO” de Manuel Alegre- Guião de leitura para professores )
Este livro de Manuel Alegre fez-nos viajar imenso! As referências históricas e literárias que se cruzam nos seus versos levaram- nos a descobertas fabulosas. Aqui ficam alguns roteiros de que nos servimos na viagem, para entendermos melhor este poema narrativo de Manuel Alegre:
Já requisitaste alguns livros sobre os Descobrimentos? Banda desenhada, pequenas histórias, livros de aventuras… Não falta por onde escolher na Exposição Temporária na Biblioteca.
A propósito deste assunto deixamos aqui esta ligação para uma das duas coleções originais do jornal Expresso disponibilizadas em formato digital no Centro Virtual do Instituto Camões , PARA LER , OUVIR…e cantar.
Este livro, intitulado Carta a El-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil,de Pêro Vaz de Caminha, adaptada para os mais novos por João de Melo,com apelativas ilustrações de Carla Nazareth, é uma das obras que faz parte da coleção Clássicos da literatura portuguesa contados às crianças. Tempo dos mais novos (Série da Helena; Quasi Editora, 2008)
Através dele, os alunos dos 1º e 2º ciclos (e também os outros) podem ficar a conhecer o importante documento de “elevado valor literário e historiográfico” * que, em 1500, Pêro Vaz de Caminha endereçou a D. Manuel I, Rei de Portugal.
*Nota biográfica transcrita da penúltima página: «Pêro Vaz de Caminha (Porto, 1437- Calecut, Índia, 1500) foi Cavaleiro da Casa Real e cidadão do Porto onde exerceu o cargo de mestre da balança da moeda, posição de muita responsabilidade na sua época. Em 1500, embarcou em Lisboa como escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral – que tinha como destino a Índia- com a função de fazer o relato da viagem. Foi no percurso dessa viagem que que se deu a descoberta das terras brasileiras, e coube a Pêro Vaz de Caminha escrever uma carta a dar a notícia ao rei D. Manuel I. Esta carta, de elevado valor literário e historiográfico, lançou o seu nome para a posteridade. Seguiu depois para a Índia como feitor e morreu em Calecut num assalto dos mouros à feitoria portuguesa ali instalada»
A Nau Catrineta que tem Muito que Contar de António Torrado, ilustrada por Paula Soares, numa edição escolar da Civilização Editora, foi o livrinho que oferecemos aos “top-leitores” do 1º período. (ver nota para professores)
«Quem lembra a Nau Catrineta quem a chora e a lastima, ondas do mar abaixo ondas do mar acima?
Quem vira costas aos cais que da espera se arruína, ondas do mar abaixo ondas do mar acima?
Quem, de janelas fechadas, enlutadas, desanima, ondas do mar abaixo ondas do mar acima?
Neste silêncio de mais pelo cais, onde a neblina apaga esquinas, umbrais, um velho arrais se aproxima..
A névoa que traz nos olhos a névoa que o encortina arranca flocos de névoa, trovas de pranto em surdina: “Eu sei da Nau Catrineta que tem muito que contar, Foi EI- Rei quem ordenou que a fossem aparelhar. O capitão a aparelha nem mais tinha que esperar, ao sair da barra fora tudo era arrebicar. (…)”»
continuar a ler no blogue do Contador de Histórias
Para saber mais:
«A Nau Catrineta é um poema romanceado por um anónimo, relativo às viagens para o Brasil ou para o Oriente. Segundo Almeida Garrett, o romance popular A Nau Catrineta terá sido baseado no episódio sobre o Naufrágio que passou Jorge de Albuquerque Coelho, vindo do Brasil, no ano de 1565, que integra a História Trágico-Marítima. Este poema, que Garrett incluiu no seu Romanceiro (1843-1851), foi bastante difundido pelos países setentrionais. Diz a lenda que decorria o ano de 1565 quando saiu de Pernambuco a nau “Santo António” com destino a Lisboa, levando a bordo Jorge de Albuquerque Coelho, filho do fundador daquela cidade. Pouco depois de deixarem terra, avistaram uma embarcação que vinha na sua direção e que identificaram como um navio corsário francês, que pilhava os barcos naquelas paragens. Dado o alerta, pouco adiantou desfraldarem todas as velas, pois o “Santo António” tinha os porões demasiado carregados. A abordagem dos corsários foi rápida e eficaz: a nau foi saqueada com todos os seus haveres e deixada à deriva no mar sob o sol escaldante. Os tripulantes mais fracos ou feridos em combate foram morrendo de sede e de escorbuto e os que iam sobrevivendo não esperavam melhor sorte. O desespero apoderou-se dos marinheiros e um deles cheio de fome tentou arrancar pedaços de carne de um companheiro moribundo. Alertados pelos gemidos do homem, acercaram-se dele todos os sobreviventes, uns, para evitarem a ação desesperada, e outros, para nela participarem. Os ânimos estavam já muito exaltados, quando a voz de Jorge de Albuquerque Coelho se levantou, aconselhando-lhes calma e apelando para a sua dignidade de homens. Os marinheiros serenaram, enquanto a nau continuava à deriva. Por fim, foi avistada terra portuguesa, onde todos foram acolhidos e tratados. Conta-se que, muitos anos depois, Jorge de Albuquerque Coelho, já de idade avançada, se sentava em frente ao mar rodeado de amigos para contar a sua história que começava assim: “Lá vem a nau Catrineta, que tem muito que contar. Ouvi, agora, senhores, uma história de pasmar…”.»
Imagem: tapeçaria de Portalegre reproduzindo “A Nau Catrineta” de Almada Negreiros, executada a partir dos painéis da Gare Marítima de Alcântara. (Para ver fotos dos painéis pesquisar naBiblioteca de Arte / Fundação Calouste Gulbenkian)
Ler a versão popularizada por Almeida Garrett aqui e outra cantada por Fausto
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Notas para professores:
O texto de António Torrado não é de leitura fácil, com um vocabulário e construção frásica incomuns. Não se trata de uma adaptação para crianças, simplificada, mas sim de uma versão literária da lenda que narra as desventuras da nau quinhentista e dos seus tripulantes. Não creio que seja de todo apropriado para o 3º ano do 1º ciclo (como talvez por lapso vem aconselhado nas lista do PNL); para este nível etário seria mais apropriada a divertida Nau Mentiretade Luísa Ducla Soares com ilustrações de Manuela Bacelar (livro infelizmente esgotado, do qual possuímos apenas um exemplar e uma versão digitalizada), efetivamente aconselhada para o 2º ano- ver capa e texto aqui)