Início da peça*
«Os atores entram em cena e cantam:
Nós somos os trampolineiros ,
os faz-tudo, os pantomineiros ,
saltimbancos , aventureiros,
falsos fingidores verdadeiros,
atores, imitadores, tocadores,
dançadores, cantadores, contadores
de histórias de reis e de rainhas,
de bobos, de bombeiros, de galinhas,
histórias de trampolineiros,
de faz-tudo, de pantomineiros,
saltimbancos, aventureiros,
falsos fingidores verdadeiros,
atores, imitadores, tocadores,
dançadores, cantadores, contadores
de histórias de reis e de rainhas,
de bobos, de bombeiros, de galinhas, etc…
REI
Foi numa noite de Natal.
Estávamos em maio mas não fazia mal,
tinha havido uma avaria no calendário
e naquele ano saiu tudo ao contrário:
o Natal em maio, a primavera em novembro,
o 1.º de abril a 22 de setembro.
Eu que tenho mais de mil anos anos não me lembro
de ter feito tanto calor como em dezembro.
Houve semanas com 5 dias, outras inteiras,
(uma em julho teve 16 segundas-feiras!)
Até houve a semana dos 9 dias,
muitas promessas foram naquele ano cumpridas!
Foi um ano tão maluco, tão completamente bissexto,
que para muitos serviu de pretexto
para trocar as voltas ao Calendário
e festejar todos os dias o aniversário.
Naquele ano espantoso cada um podia
ter à vontade as suas manias
porque todos os dias eram todos os dias…
Eu que não sou menos que os demais,
naquele ano tive 20 natais!
Esta História de Natal
passou-se num desses natais.[…]»
* A primeira peça do livro História com Reis, Rainhas, Bobos, Bombeiros e Galinhas e A Guerra do Tabuleiro de Xadrez de Manuel António Pina
Capa edição Porto Editora , 2014
Recensão Casa da Leitura por Sara Reis da Silva: «Neste volume, ressurgem duas peças breves, editadas, pela primeira vez, pela Pé de Vento, Companhia responsável pela sua encenação, nos anos 80. O primeiro título, arquitectado, a partir de segmentos de outros textos já levados à cena pela Companhia referida, é dominado pelo nonsense e pelo burlesco, um espaço povoado de bobos, tropelias, trampolineiros, pantomineiros, “dançadores, cantadores” e tantos outros. (…)» (ver capa)
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Para Saber + (profs): «Se calhar nem mesmo teatro»: o texto dramático para a infância de Manuel António Pina por Sara Reis da Silva (pdf)