Aquilino Ribeiro nasceu a 13 de setembro de 1885.
Na Biblioteca, podes ficar a conhecer alguns dos seus livros na nossa primeira exposição bibliográfica do ano. O Livro de Marianinha– de onde foi retirado este poema, dedicou-o o autor à sua primeira neta. Foi publicado em 1967, já após o falecimento do escritor em 1963.
Para saber mais sobre este último livro de Aquilino Ribeiro ver aqui (webfolio)
«Lá vem a nau Catrineta
velas rotas a trapejar …
ouvide agora, senhores,
sua história de pasmar
como vem na Carónica de Espana,
limpa de mito e patranha.
Havia mais de ano e dia
que erravam na volta do mar,
já não tinham que beber,
já não tinham que manjar.
Deitariam solas de molho
se as pudessem tragar,
mas sola de sapato velho
nem para rato é de rilhar.
Apanharam quantas migalhinhas
havia nas frinchas do comedor,
e beberam o orvalho
que vem do céu com o alvor
Pior foi que a procela
deu sobre eles a matar,
saltou bússola, saltou bitácula,
tudo varrido pelo mar.
As vagas eram tão grossas
que ninguém se podia aguentar
na tolda, para tomar rumo
tomar rumo ou timonar.
Mastro grande estava intacto
mas quem lá podia subir?
-Toca à forma, mestre, toca!
Eia, marujinhos, reunir!. ..
Quem for capaz de a vida jogar
trepe àquele mastro real.
Se vir montes de Espanha
ou colina de Portugal
terá alvíssaras sem par! […]»
in O Livro de Marianinha (1967)
Aquilino Ribeiro (Sernancelhe, Carregal, 13 de setembro de 1885 — Lisboa, 27 de maio de 1963)