O que é o/um “Programa de Leitura Fundamentado na Literatura (PLFL)”? – Por Gisela Silva, transcrito daqui
«Esta foi a questão que me foi colocada na escola e à qual respondi com prazer. Por julgá-la pertinente achei que seria importante fazer uma síntese do que se pode entender por este programa de ensino/aprendizagem da língua. Não deixarei, contudo, de salientar que a consulta da bibliografia que fundamenta a base teórica deste programa de leitura para a promoção leitora é fundamental para os mais curiosos.
Sabemos que, enquanto espaço de formação e de desenvolvimento da própria cultura epistemológica, cumpre à Escola proporcionar estratégias de leitura conducentes ao desenvolvimento da capacidade leitora/escrita dos alunos. Ora, tratando-se do PLFL, numa primeira fase, é fundamental que se estimulem a curiosidade e participação dos alunos face ao texto a ler para, depois, e a partir da sua análise, se poder, já numa segunda fase, proceder ao necessário reforço das competências da língua, o que beneficiará os demais currículos.
Defendendo uma abordagem holística da língua, numa recusa de um ensino segmentado no que se refere ao ensino da escrita, da oralidade e da leitura, o PLFL está em prática em alguns estados dos Estados Unidos da América, no Brasil e no Canadá desde 1992, e alicerça alguns dos preceitos do Plano Nacional de Leitura (Sloan, 1991; Yopp & Yopp, 2001; Fountas & Pinnell, 2001; PNL, 2006). Concretizando que a “experiência da leitura não se aprende, mas atinge-se, pelo contágio e pela prática” (Cerrillo, 2006:33), esta outra forma de fazer leitura pretende desviar-se dos tradicionais questionários (que por vezes só maçam os alunos), e apoia-se em três momentos essenciais para o reforço da percepção estética dos alunos e do desenvolvimento das suas competências linguística, discursiva, comunicativa, pragmática, literária e imagética, permitindo lhes aceder cada vez mais cedo a textos mais complexos, ao mesmo tempo que encontram significância para o que leram (Mendonza Fillola, 1999:145; 2007:69-82; Cerrillo, 2007: 175-192).
Como se faz então esta desejada interacção com a literatura, objectivando-se no aluno/adolescente uma abertura intelectual a outras possibilidades e realidades que lhe permitam uma correcta compreensão do mundo? Este programa divide a sua prática metodológica em três momentos fundamentais: as actividades a desenvolver “antes da leitura”, as actividades de “durante a leitura”, e ainda as actividades a promover “após a leitura”, todas elas elaboradas com objectivos bem definidos e diferenciados (Cullinan, 1994;2003; Azevedo, 2006a, 2006b; Azevedo & Simões, 2007; Simões, 2008; Silva, Macedo, Simões [et. al.], 2009).
As actividades que se reportam ao “antes da leitura” visam sobretudo a promoção de respostas pessoais por parte do aluno, preconizando-se a sua curiosidade e a motivação através do estímulo da afectividade e emoção com a leitura a vir. Estas actividades pretendem ainda a activação e construção de intervenções a partir de conhecimentos do mundo, bem como a compreensão dos objectivos a cumprir aquando/após a leitura.
As actividades decorrentes do “durante a leitura” inscrevem-se no momento em que o professor/mediador auxiliao leitor/aluno na compreensão do texto e nas relações que este estabelece com ele, propiciando momentos gratificantes para a sua aprendizagem.
Assim, e não menos importantes, as actividades do “após a leitura”, no intuito de facilitar a análise crítica e a interacção, pretendem suscitar reflexões e promover respostas pessoais e colectivas, debates, discussões de temáticas, valores ético-formativos e dimensões sócio-ideológicas encontrados no segundo momento da leitura, num sistemático reforço das aprendizagens da língua.
As investigadoras Hallie Kay Yopp e Ruth Helen Yopp (2001), Irene Fountas e Gay Sue Pinnell (2001) e outros desenharam um vasto conjunto de ‘ferramentas’ de auxílio que se diferenciam umas das outras consoante o momento em que são aplicadas relativamente ao texto literário. Assim, as actividades levadas a cabo “antes da leitura” devem‘encantar’ o aluno. Por isso elas são pensadas com o intuito de valorizar a sua participação, angariando as suas respostas pessoais e afectivas.
Por sua vez, as actividades pensadas para o momento “durante a leitura” devem fazer com que os alunos entendam o texto/capítulo na sua globalidade, percepcionando as relações que estabelecem com ele. Elas devem facilitar a compreensão do texto, focalizando a atenção dos alunos para o essencial, mas nunca simplificar os conteúdos do texto empobrecendo-o na sua mensagem. Estas actividades desempenham um papel algo singular, pois ao auxiliar à compreensão do texto, elas obrigam os alunos (a partir de determinados apontamentos) a questioná-lo, encorajando o surgimento de reacções, emoções, temáticas, ideias, etc.
As actividades a desenvolver após a leitura, e que têm por principal objectivo provocar a reflexão e o diálogo de forma a concretizar-se a análise e a síntese do trabalho realizado, devem estimular ainda mais a reflexão e a exposição de respostas pessoais de forma a que os alunos desenvolvam a suas competências (orais e escritas).
Por se tratar de um programa que proporciona momentos de interacção oral e momentos de escrita literária, é necessário que o professor/mediador conheça as várias ‘ferramentas’ de aplicação prática (nunca pensadas como meros exercícios) que ele comporta e que são, para ele, auxílios valiosos na captação da atenção dos alunos, e, para estes, excelentes formas de organização da informação na estruturação adequada do seu pensamento (Fountas & Pinnell, 2001:440).
Nota: embora muito extenso este post é uma brevíssima referência do que é o PLFN.
Consultar bibliografia aqui
Foto: alunos do 2º ano da EB1 de Paçô partilhando um momento de leitura na BE