– Menina, que sabe ler,
também sabe soletrar!
Diga lá, minha menina:
quantos peixes há no mar?
– Quantos peixes há no mar?
eu já te vou responder
São metade e outros tantos
fora os que ainda estão por nascer.
Diz-me lá, ó cantador,
quantas penas tem um pato?
quantos picos um ouriço,
quantos cabelos um gato?
-Menina, perguntas bem,
agora respondo eu:
penas, picos e cabelos
só têm os que Deus lhe deu.
-Tenho duzentos lencinhos,
um coroa em cada ponta:
ó menina que é tão fina,
faça-me lá essa conta!
-São quatrocentos mil réis
nem é preciso escrever,
que és um belo cantador
já ficámos a saber.
– Menina que tanto sabe,
responda a esta pergunta:
que ciência tem o mar,
que tanta água em si junta?
– A ciência que o mar tem,
não é coisa de pasmar:
não há rio nem regato
que ao mar não vá parar.
Alice Vieira, Eu bem vi nascer o sol, Caminho
(carregar no título ou na capa do livro para aceder a parte do seu conteúdo digitalizado)
Para saber mais:
- Estas cantigas, também chamadas cantigas à desgarrada, são cantigas em que os cantadores e as cantadeiras improvisam e entram em despique. Algumas destas cantigas fazem parte do nosso património e estão registadas nos cancioneiros É o caso destas quadras que Alice Vieira compilou na sua antologia de literatura tradicional. (ver variantes e outras versões desta cantiga aqui).
- PP&EE: recensão na casa da leitura
Nota: este artigo também foi publicado aqui