Hoje, Dia Mundial do Animal- que se comemora na data de nascimento de S. Franscisco- recordamos este poema de Afonso Lopes Vieira e o seu livro Animais Nossos Amigos.
«Andava o povo, assustado,
a fazer a montaria
ao grande lobo esfaimado
que tanto mal lhe fazia.
Ele levava nos dentes
agudos e carniceiros,
os meninos inocentes
que são os alvos cordeiros.
E as pessoas assaltando,
vinha de noite, em segredo,
com seus olhos chamejando,
encher a gente de medo!
Ora, São Francisco era
incapaz de querer mal
mesmo que fosse a uma fera,
até ao tigre real.
Tinha tão bom coração
que homens e bichos o amavam
e as andorinhas poisavam
na palma da sua mão…
E como ele desejava
que tudo vivesse em paz,
enquanto o povo caçava,
o Santo, o Poeta, que faz?
Procura o lobo cruel,
e tendo-o encontrado enfm,
chamou-o, foi para ele,
sorriu-lhe e falou assim:
“Ó lobo, muito mal fazes
em levar vida tão má!
Mas eu proponho-te as pazes,
e tudo esqueço… Ouve lá:
Eu sei porque fazes mal,
eu sei o que te consome:
tu és tão mau, afinal,
tu és mau – porque tens fome…
Pois bons amigos seremos,
para nosso e teu descanso;
e de comer te daremos
para poderes ser manso.
Promete que hás de mudar
de vida, neste momento:
e em sinal de juramento,
alevanta a pata ao ar
e põe-na na minha mão!”
Jurou o lobo. E cumpriu…
Depois, toda a gente o viu
tão mansinho como um cão.»
Afonso Lopes Vieira in Animais nossos Amigos.
- Na nossa Biblioteca temos um exemplar da edição de 1992 da editora Livros Cotovia com ilustrações de Raul Lino (conforme 1.ª edição da Livraria Ferreira, 1911), e um exemplar de versão com ilustrações de Isabel Favila, publicada pela editora Vega em 1998.
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- As imagens em baixo reproduzem um artigo da época (não identificado) sobre esta obra, publicado no blogue “Leiria”, terra natal do poeta. Leia o resto deste artigo »