25 poemas e canções para o 25 de Abril
Zeca Afonso em 29 de Janeiro de 1983, no Coliseu canta esta canção de 1973
Venham mais cinco,
duma assentada que eu pago já
Do branco ou tinto,
se o velho estica eu fico por cá
Se tem má pinta,
dá-lhe um apito e põe-no a andar
De espada à cinta,
já crê que é rei d’aquém e além-mar
Não me obriguem a vir para a rua
Gritar
Que é já tempo d’ embalar a trouxa
E zarpar
A gente ajuda, havemos de ser mais
Eu bem sei
Mas há quem queira, deitar abaixo
O que eu levantei
A bucha é dura, mais dura é a razão
Que a sustem só nesta rusga
Não há lugar prós filhos da mãe
Não me obriguem a vir para a rua
Gritar
Que é já tempo d’ embalar a trouxa
E zarpar
Bem me diziam, bem me avisavam
Como era a lei
Na minha terra, quem trepa
No coqueiro é o rei
A bucha é dura (…)
Do álbum homónimo:« Gravado em finais de 1973, em Paris, novamente com colaboração de José Mário Branco, inclui diversos temas escritos por Zeca durante o seu último período de ‘férias’ na prisão de Caxias, em Maio desse ano. É o disco em que o cantor conta com a participação de maior número de músicos (18, no total) e onde a poesia de Zeca atinge a sua expressão mais ampla, livre de significados imediatistas e de interpretações lineares. São, por junto, dez cantigas onde o tradicional lirismo de José Afonso se funde com uma grande ‘modernidade’ semântica (…) sem nunca perder o sentido daquilo que, para Zeca, foi sempre o fundamental: a agitação sociopolítica que as suas intervenções musicais possibilitavam. Exemplos soberbos são Adeus ó Serra da Lapa, A Formiga no Carreiro ou Venham mais cinco, o último dos grandes hinos de Zeca deste período.Viriato Teles » in Verso do Verso